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Poems

Poems

A Poetry Selection

77 Poems

SEGUIAS TU PELA ESTRADA

Seguias tu pela estrada
e eu seguia plo carreiro:
tão fácil, movimentada;
eu, tão tardo caminheiro.

Os pés à vista de ti
inda mais se me toldavam;
se andava junto ou sem ti
meus sentidos ignoravam.

Ainda sou caminheiro,
ainda vais pela estrada:
sempre mais lento o carreiro,
e tu mais longe na estrada.

YOU WERE GOING BY THE ROAD

You were going by the road,
And I was going by the path.
So easy in your movements,
And I so slow in my walk.

My steps, looking at you
Became even more confused.
Whether I was with you or not
My senses did not know.

I still go by the path,
You still go by the road;
The path–slower and slower;
And you farther on the road.

21.7.1945
In Suspension Bridge (77 Poems)

IMAGEM

No firme azul do desdobrado céu
decantarei a límpida magia
des sensações mais puras, melodia
da minha infância, onde era apenas Eu.

Da realidade nua desce un véu
que, já sem mar, apenas maresia,
me vem tecer aquela chuva fria
que prende esta janela ao claro céu.

Despido o ouropel desvalioso,
já não apenas servo, mas o Rei
da luz da minha lâmpada romeira,

assim procuro o centro misterioso
do mundo que hoje habito, onde serei
concêntrica expressão da vida inteira.

IMAGE

In the firm blue of the unfolded sky
I shall decant the limpid magic
Of the purest sensations, melody
Of childhood, where I was only I.

From the naked reality falls a shadow
That, with sea no more – its smell alone,
Comes to weave that rain so cold
Which joins this window to the clear sky.

Left behind the useless tinsel,
No more the slave, but now the King
Of the light of my wandering lamp,

Thus I seek the mysterious centre
Of the world I now inhabit, where I shall be
The concentric utterance of life itself.

On board the Atlantic
14.10.1945
In Suspension Bridge (77 Poems)

ORFEU

Rosto do mundo que os ventos disseram
e um outro sol derreteu em palavras
eu sou o sangue que os desertos não ignoram
o mar que nunca mais se desfará em praias
o gesto perfeito o grito já sem dor
o rosto iluminado das lágrimas ausentes–

e o vento concreto à volta de tudo
repetição dos membros abraçando
uma por uma as ausências da terra.

ORPHEUS

Face of the world told by the winds
And which another Sun dissolved into words,
I am the blood known by the deserts,
The sea that never more will fade on shores,
The complete gesture, the cry without pain,
The face enlightened by the absent tears–

And the concrete winds surrounding everything,
Repetition of the arms embracing
One by one the absences of the world.

In Adventure (77 Poems)

DIOTIMA

És linda como haver morte
depois da morte dos dias.
Solene timbre do fundo
de outra idade se liberta
nos teus lábios, nos teus gestos.

Quem te criou destruiu
qualquer coisa para sempre,
ó aguda até à luz
sombra do céu sobre a terra,

libertadora mulher,
amor pressago e terrível,

primavera, primavera!

DIOTIMA

You are beautiful as the existence of death
After the dying of the days.
Solemn timbre from the depths
Of another age is freed
In your lips, in your gestures.

Who gave you life has destroyed
Forever something else,
O vibrant more than light
Shadow of heaven on earth,

O bringer of freedom
Ominous, terrible love,

Spring, o spring!

1951
In Adventure  (77 Poems)

Palácio

"The Tiger That Walks in My Gestures" as published in the Times Literary Supplement. Identification note "T.L.S. - 28.2.58" added by Alberto de Lacerda

“The Tiger That Walks in My Gestures” as published in the Times Literary Supplement. Identification note “T.L.S. – 28.2.58” added by Alberto de Lacerda

O TIGRE QUE CAMINHA

O tigre que caminha nos meus gestos
Tem a graça insolente dos navios.

O mar que existe além das minhas rochas
É multíssimo anterior à minha infância.

A tarde que se inclina sobre os homens
Não escreve, não pinta, não consola.

A tarde inclina-se. E é tudo.
Mais lentamente que as ondas
Mas sem ruído.

THE TIGER THAT WALKS

The tiger that walks in my gestures
Has the insolent grace of the ships

The sea that exists beyond my rocks
Is much older than my childhood

The afternoon that falls on men
Does not write, paint or console.

The afternoon falls. That’s all.
More slowly than the waves
But silently.

London
27.3.1956
In PalácioSelected Poems, and Labareda
Keith Botsford (USA, 1928), Amor, after a poem by Alberto de Lacerda, 1968

Keith Botsford (USA, 1928-2018), Amor, after a poem by Alberto de Lacerda, 1968

AMOR

Apesar de tudo há um caso de amor
Entre mim e a vida

1958
In Palácio

LOVE

In spite of all there’s a love affair
Between me and life

Vieira da Silva (Portugal/France, 1908-1992), Paris, à tes pieds, 1960, gouache on paper

Vieira da Silva (Portugal/France, 1908-1992), Paris, à tes pieds, 1960, gouache on paper

Paris, à tes pieds

Paris, à tes pieds

In Palácio

Exílio

António Charrua (Portugal, 1925-2008), Agonia, to illustrate a poem by Alberto de Lacerda, 1963, print

António Charrua (Portugal, 1925-2008), Agonia, to illustrate a poem by Alberto de Lacerda, 1963, print

AGONIA

E entre os sons brutais da rua linda,
Desenhada nas mãos dessa cidade,
Sinto morrer uma espiral que ainda
Tortura o meu desejo de verdade.

E entre rostos, muros, solidões,
Prédios sem música, alheios, vazios,
Arrastei esse dia, esses milhões
De dias desse dia, ó fonte, ó rios!

Momento dos momentos (provocando
A eclosão do nó do universo
Na minha vida anónima) criando
Círculos infinitos como um verso,

Ó clarão! Ó sombra! Perplexidade.
Ó luz, eu morro. Eu morro, verdade.

Lisbon
5.11.1962
In Exílio

A língua portuguesa

Original manuscript of "A Língua Portuguesa"

Original manuscript of “A Língua Portuguesa”

A LÍNGUA PORTUGUESA

Esta língua que eu amo
Com seu bárbaro lanho
Seu mel
Seu helénico sal
E azeitona
Esta limpidez
Que se nimba
De surda
Quanta vez
Esta maravilha
Assassinadíssima
Por quase todos que a falam
Este requebro
Esta ânfora
Cantante
Esta máscula espada
Graciosíssima
Capaz de brandir os caminhos todos
De todos os ares
De todas as danças
Esta voz
Esta língua
Soberba
Capaz de todas as cores
Todas os riscos
De expressão
(E ganha sempre a partida)
Esta língua portuguesa
Capaz de tudo
Como uma mulher realmente
Apaixonada
Esta língua
É minha Índia constante
Minha núpcia ininterrupta
Meu amor para sempre
Minha libertagem
Minha eterna
Virgindade

THE PORTUGUESE LANGUAGE

This language that I love
With its barbarous cut
Its honey
Its Hellenic salt
And olive
This limpidity
Which so often
Has a deaf halo
This wonder
So massacred
By nearly all that speak it
This languor
This singing
Amphora
This manly sword
So graceful
Capable of brandishing all the ways
Of all the air
Of all the dances
This voice
This superb
Language
Capable of all the colours
All the risks
Of expression
(And wins always the game)
Capable of everything
Like a woman really
In love
This language
In my constant India
My endless wedding
My love for ever
My dissipation
My eternal
Virginity

In Exílio,  Selected Poems, and Labareda
Original manuscript of "À cidade de Lisboa"

Original manuscript of “À cidade de Lisboa”

À cidade de Lisboa

To the city of Lisbon

In Exílio and Selected Poems
Manuscript of "The Monster" translated by Christopher Middleton and the Author

Manuscript of “The Monster” translated by Christopher Middleton and the Author

O MONSTRO

Apesar da luz de maravilha
Apesar da paisagem que é soberba
Apesar de Lisboa
Camoniana princesa
Apesar de ter sido português
Dom Pedro Primeiro
Que era apaixonado e justiceiro
Rei da desditosa
Pátria minha amada
O exílio é aqui
Nesta terra usurpada
Pelo Monstro
Que não morre mas mata

Portugal
11.12.1962
In Exílio

THE MONSTER

In spite of the wonderful light
In spite of the superb landscape
In spite of Lisbon
Camoens princess
In spite of having been Portuguese
Dom Pedro the First
Who was a passionate and just
King of the unhappy
Country I love
The exile is here
In this land usurped
By the Monster
Who kills and does not die

In The Sea that Lies Beyond My Rocks, 2010

Cor: Azul (Oferenda I)

Manuscript of "Declaração"

Manuscript of “Declaração”

"Declaração"

In Cor: Azul (Oferenda I) and Labareda

DECLARATION

My life flows along the river
Close to the barges where people make their homes
Under the Autumn light in mid-July
Along the crowds that fill the King’s Road
Close to my hope
As savage as a god

In Chelsea to be exact
In London to be exact
In the exact centre
Of freedom

Translated by Luís Amorim de Sousa

Meio-Dia

"Austin Revisited"

In Meio-Dia and Labareda

"Austin Revisited"

Translated by David Wevill

"Austin"

In “Austin” published by Pablo Beltrán de Heredia, Santander, 1977, Meio-Dia, and Labareda

"Austin"

Translated by David Wevill and read at Taylor Institution exhibition “A River Runs Through It”, 2015

Mil sombres me perseguem

Austin
16.5.1975
In Meio-Dia

A thousand shadows pursue me

Translated by Luís Amorim de Sousa for Poetry Library exhibition “Enchantment Will Find Me”, 2016

Não há ruínas

In Meio-Dia

There are no ruins

Translated by David Wevill in World Literature Today, Winter 1979 

Austin
20.5.1975
In Meio-Dia and Labareda

Translated by Alberto de Lacerda 

Sonetos

SONETO 11

O próprio ar se arrasta como um manto
Cobrindo o corpo longo da agonia
O próprio ar precisa de alimento
O próprio ar se queixa: a noite é fria

O próprio ar se deita no meu leito
O próprio ar habita extasiado
O nossa olhar em arco rarefeito
Sofrendo de sublime falta de ar

O nosso olhar: ai comunicamos
Ai vestimos a nudez final
Que julgas porventura desumana.
Nudez do corpo. Simples. Triunfal.

O nosso olhar. Ai séculos e dias.
A sala voa. E a planície é fria

Austin
12.3.1969
In Sonetos 

SONETO 108

A lingua portuguesa, sua anca
Arcaica no futuro me combina
A complexa resplandecente e franca
Paixão que me cavalga e eu domino,

Senhor e servo, meu monstro arcangélico
Em que acredito mais que o próprio mundo
Acredita no mundo, fúria fálica
Que partilhas, amor, naquele fundo

Onde as formas atingem a essência,
Escrita nua, monumental e pura,
Linguagem-corpo, corpo em transparência
Onde as próprias feridas transfiguram,

E faço amor com a portuguesa lingua
Que me possui e que eu possuo, linda

Florence
13.7.1972
In Sonetos and Labareda

Opus 7 (Oferenda II)

Atelier de Arpad Szenes

In Opus 7 (Oferenda II) and Labareda

Arpad's studio

Translated by Anthony Rudolf

LULLABY

(Inspirado numa interpretação de Dietrich Fischer-Dieskau)

A canção que eu murmuro
Vai fechar os teus olhos
Vem do leite inocente
Da primeira mãe
São palavras tão suaves
É uma brisa tão leve e tão final
Que o mundo talvez acabe
Quando os teus olhos deixarem
De ouvir os meus

LULLABY

(Inspired by a performance of Dietrich Fischer-Dieskau)

The song I murmur
Will make you close your eyes
It comes from the innocent milk
Of the very first mother
The words will be so gentle
Such a light and final breeze
That the world may not be there
When your eyes stop hearing mine

Royal Festival Hall
8.2.1965
In Opus 7 (Oferenda II) and Selected Poems, translated by Luís Amorim de Sousa for Poetry Library exhibition “Enchantment Will Find Me”, 2016

Melodia

Melody

In Opus 7 (Oferenda II) and Selected Poems

As Pontes Visíveis e as Invisíveis

The Visible and the Invisible Bridges

6.8.1965
In Opus 7 (Oferenda II),  Selected Poems, and Labareda

Ariel e a Luz (Oferenda II)

The King of London in Portuguese

The title of this poem was written in classical Greek characters - the English translation is "The King of London"

(Note: The title of this poem was written in classical Greek characters – the English translation is “The King of London”)

In Ariel e a Luz (Oferenda II),  Selected Poems, and Labareda

The Weapons of War Perished in Portuguese

The Weapons of War Perished in English

In Ariel e a Luz (Oferenda II) and Selected Poems

A água
Meu primeiro elemento

O fogo
Mais tarde

A luz

A luz é agora
Meu elemento lento
Para sempre

Water
My first element

Fire
Later

Light

Light is now
My slow element
For ever

12.1966
In Ariel e a Luz (Oferenda II) and Selected Poems

TÚMULO DE SAFO

Onde
Tua cisterna de fogo, teu dealbar de tigre
Feroz, melodioso?

Onde
Tua seiva de abelhas de ouro
Suaves, vorazes, cruéis,
Esplendentes?

Onde, o silvo musical dos teus dentes?

Onde
O teu nauta bem amado?
Real ou imaginário?

Onde
O teu túmulo,
Safo, Safo, Safo?

TOMB OF SAPPHO

Where
Your cistern of fire, your dawning of tiger
Ferocious, melodious?

Where
Your sap of golden bees,
Gentle, voracious, cruel,
Resplendent?

Where, the musical hiss of your teeth?

Where
Your beloved mariner?
Real or imaginary?

Where
Your tomb
Sappho, Sappho, Sappho?

London
1.2.1967
In Ariel e a Luz (Oferenda II),  Selected Poems, and Labareda

Sequência

1967
In Ariel e a Luz (Oferenda II) and Labareda

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

ÊXTASE

A-tarde-desliza-barco-branco
Pavana súbita

O coração pára

O sol espera

Margens líquidas

O tempo dança muito lentamente

ECSTASY

The-afternoon-glides-white-boat
Sudden pavanne

The heart stops

The sun waits

Liquid shores

Time dances very slowly

London
6.5.1967
In Ariel e a Luz (Oferenda II) and Selected Poems

Mecânica Celeste (Oferenda II)

Saudade in Portuguese

Saudade in English

In Mecânica Celeste (Oferenda II) and Selected Poems

AUBADE IN THE AFTERNOON

Num estado de suspensão

(Havia
Nessa tarde um vidro
Que se rasgava em alba
Horizontal)

Agudo e ouro

(A água
Interpretava a pedra
A pedra
Era essa espera
Fantástica
Paradisíaca
No coração

(A pedra
Encantada
Pelo barco longínquo

AUBADE IN THE AFTERNOON

Suspended

(There was
In that afternoon a glass
That tore itself like a dawn
Horizontally)

Sharp and gold

(The water
Interpreted the stone
The stone
Was that waiting
Fantastic
Paradisal
In the heart

(The stone
Spellbound
By the distant boat

Austin
22.1.1968
In Mecânica Celeste (Oferenda II) and Selected Poems

O veludo é explosivo

Velvet is explosive

In Mecânica Celeste (Oferenda II) and Selected Poems

On hearing Marianne Moore reading her poetry (Portuguese)

In Mecânica Celeste (Oferenda II)

On hearing Marianne Moore reading her poetry (English)

Translated by Luís Amorim de Sousa in The Sea that Lies Beyond My Rocks, 2010

Palácio de Piero della Francesca

In Mecânica Celeste (Oferenda II) and Labareda

Palace of Piero della Francesca

In Alberto de Lacerda: Nine Poems, translated by David Wevill
Reprint from Winter, 1969, issue of Arion, pp. 546-555

Uma Índia do Pueblo de Santa Domingo

New Mexico
22.3.1970
In Mecânica Celeste (Oferenda II) and Labareda

An Indian Woman of Pueblo Santo Domingo

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

CERIMÓNIA

A dança é o gesto
Em que o homem toca
A palma da mão do deus

New Mexico
22.3.1970
In Mecânica Celeste (Oferenda II)

CEREMONY

Dance is the gesture
In which man touches
The palm of the hand of the god

In Alberto de Lacerda: Nine Poems, translated by David Wevill
Reprint from Winter, 1969, issue of Arion, pp. 546-555

Marcha da Paz p. 1

Marcha da Paz p. 2

Marcha da Paz p. 3

In Mecânica Celeste (Oferenda II) and Labareda

Peace March p. 1

Peace March p. 2

Peace March p. 3

Typescript of “Peace March” translated by Harriett Watts in The Rag, Austin, May 1970

Poema Escrito nas Paredes de Nova Iorque p. 1

Poema Escrito nas Paredes de Nova Iorque p. 2

Poema Escrito nas Paredes de Nova Iorque p. 3

Poema Escrito nas Paredes de Nova Iorque p. 4

In Mecânica Celeste (Oferenda II)

“Poema Escrito nas Paredes de Nova Iorque”, originally published in Mecânica Celeste, has been translated by Dean Thomas Ellis in the New Orleans Review website.

Átrio

Silêncio

Mestre

O mestre

Supremo

Yèvre-le-Châtel
7.7.1990
In Átrio

Silence

Master

The supreme

Master

Translated by Isabel Pinto-Franco and William Corbett for Boston University tribute “Remembering Alberto de Lacerda”, 2008

Horizonte

London
15.08.1997
In Horizonte

Sitting in an open air cafe

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

A caminhada mais longa
É a despedida
Muito breve que seja

A caminhada mais longa
É a despedida

Partiste

Ficou tudo
Por dizer

Quase tudo

Partiste

Como é possível
Interromper
A eternidade?

New York
8.6.1998
In Horizonte

The longest walk is the walk
That leads to the farewell
As brief as it may be

The longest walk is the walk
That leads to the farewell

You have left

Everything
Was left unsaid

Almost everything

You have left

Can eternity
Be
Stopped?

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

Não tive as irmãs de Morandi

In Horizonte

I did not have Morandi's sisters

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

Contributions

Um sol interior
Um sol exterior
Um sol interior munificente
Um sol exterior munificente
Exigente
Uma serpente em espiral em direcção
Ao sol

As cores últimas resolvidas na coluna
Do sol

O sol
Em majestade

In Labareda

Sun within
sun without

internal sun bestowing
external sun bestowing demanding

snake
uncoiling towards the sun

the root colors
resolved in the pillar of sun

sun
in majesty

Mexico City
21.12.1969
In Alberto de Lacerda: Nine Poems, translated by David Wevill
Reprint from Winter, 1969, issue of Arion, pp. 546-555
Verão
Typescript of “Verão”, unpublished

Summer


In Partisan Review, vol. XLIII, no. 4, Rutgers University, New York, 1976
Vieira da Silva (Portugal/France, 1908-1992), O caminho para a luz, by Alberto de Lacerda, 1980, Indian ink on paper

Vieira da Silva (Portugal/France, 1908-1992), O caminho para a luz, by Alberto de Lacerda, 1980, Indian ink on paper

O caminho para a luz
Porque passa pela luz
É um caminho sem fim

O caminho para a luz é difícil
Mas só a facilidade o permite

O caminho para a luz nem é íngreme
Nem é plano
É consecutivamente
Imprevisível

O caminho para a luz não é caminho
Porque é ele que vem ter connosco

London
12.6.1980
Unpublished

The pathway to the light
As it goes along the light
Is an endless pathway

The pathway to the light is hard to follow
Only easiness allows it

The pathway to the light is neither steep
Nor flat
But step by step
Unpredictable

The pathway to the light is not a pathway to be followed
Because it comes towards us

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

Touro Pedro p. 1

Touro Pedro p. 2

“Touro Pedro”, in Colóquio/Letras, Fundação Calouste Gulbenkian, Jan-Feb 1988, offprint no. 101

Posthumous

Manuscript of "Waterloo"

Manuscript of “Waterloo”

WATERLOO

Aqui se perfazem os ciclos
De quando em quando
Aqui se fica à espera
Encantado
Não se sabe porquê
Aqui se entrecruza
Mais ou menos tudo
Ao findar do dia

Aqui se erguem
Debaixo desta ponte
Certos fantasmas
Um por um

Morro

Renasço

A ordem dos factores é arbitrária

In Labareda

WATERLOO

Things tend to come full circle here
From time to time
Enchantment finds me here
Wondering why things converge
Towards the close of day

Under this bridge
Certain ghosts reappear
They come back
One by one

I die
I feel brought back to life
The ghosts arrive
In no particular order

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

IN MEMORIAM V. S.

Pausa austera
Lentamente
Entrevista

Contemplado
O negrume
No poço
Insondável
O coração ousa
Mais tarde
Séculos mais tarde
Percorrer de novo
Lenta-
Muito lenta-
Mente

O horizonte

Paris
11.3.1992
In Nocturnos (unpublished) and in Alberto de Lacerda – Encontros com Vieira da Silva e Arpad Szenes, 2009

Chiaroscuro in Portuguese

London
18.4.1992
In Nocturnos (unpublished)

Chiaroscuro in English

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016
E desce

Manuscript of “E desce”

E desce

London
30.1.1993

And suddenly an angel
Descends
Upon the convulsive knot

Blue matter

In Apesar de Tudo, 2017, and translated by Luís Amorim de Sousa in In Spite of All, 2015

W. S.

A assinatura que parece um desenho

A tesa enorme
Sobre o túmulo hermético
Uma vida hermética

E escreveu labirintos de fogo
Iluminando
Tudo

London
3.2.1993
In Poesia Magra (unpublished)

W. S.

His signature looks like a drawing

A huge forehead
Over the hermetic tomb
Hermetic life

He wrote labyrinths of fire
Throwing light on
Everything

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016 

E recomeçam os pássaros a cantar
Antes do erguer do dia

E os pássaros da há vinte
De há trinta?
De há quarenta anos?

Haverá um céu
Unicamente
Para pássaros?

Ninguém os vê envelhecer

Ninguém os vê mortos
(Só por acidente)

Os pássaros
Não morrem

Desaparecem

London
16.3.1993
In Poesia Magra (unpublished)

And once again the birds begin to sing
Before the break of day

And what of those birds
Of thirty
Of forty years ago?

Is there a sky
For the birds?

Nobody sees them turn old

Nobody sees them lying dead
(only by chance)

Birds do not die

Birds disappear

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016 

A hora passa

E o momento:

Por vezes se encontram

London
24.6.1993
In Presença (unpublished)

The hour goes

And the moment:

Occasionally they meet

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016 
A casa ficou por construir typescript

Typescript of “A Casa ficou por construir”

A casa ficou por construir

Boston
14.1.1994
In A Luz que Escondeu no Escuro, 2017

The house was never built

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016 

Continuas presente
Com a mesma intensidade

(O fogo é agora luz
Em vez de labareda)

Boston
11.4.1994
In O Fio da Meada (unpublished)

Your presence remains
Just as intense

(The fire has turned into light
instead of flame)

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016 

A agulha de marear
És tu

A caravela és tu
Estátua de proa avançando
Para o porto
Desconhecido
Inteiramente imprevisto
O mais formoso

És a agulha de marear
A caravela

Boston
1.5.1994
In O Fio da Meada (unpublished)

The compass needle
You are

You are the caravel
The figurehead
Approaching
The unknown harbour
Uncharted
The most enchanting

The compass needle you are
The caravel

Translated by Luís Amorim de Sousa for Enchantment Will Find Me”, 2016

E será tudo
Cada vez mais lento
Mais extasiado

Monotonia
–Por assim dizer
Divina

New York
6.5.1994
In O Fio da Meada (unpublished)

And everything will be
Slower and slower
More and more ecstasy bound

Divine
–One might call it
Monotony

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

A escuridao e total

New York
30.7.1994
In O Fio da Meada (unpublished)

Darkness is total

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

Vermeer p. 1

Vermeer p. 2

In O Pajem Formidável dos Indícios, 2010

E ha o jornal

London
20.7.2000

And there is the paper

Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

CONTINUA NA PRÓXIMA GUERRA

Nunca cresceram

Meninos com birras
Só se distraem
A brincar com soldados de chumbo

Os soldados são eu tu ele
Nós vós eles

E o resto do mundo

London
10.2.2003
Dictated by telephone by Alberto de Lacerda to be read by Luís Amorim de Sousa at an anti-war poetry reading at Palácio Frontiera, Lisbon, 25.2.2003

TO BE CONTINUED IN THE NEXT WAR

They never grew up

Bratty children
Their only fun comes from playing
With toy soldiers

The soldiers are me you him
Us you them

And the rest of the world

Translated by Luís Amorim de Sousa
Manuscript of "To the wind you have confided"

Manuscript of “To the wind you have confided”

Ao vento disseste o que nunca
A mais ninguém tinhas dito

To the wind you have confided
What you never told a soul

Last poem, undated
Translated by Luís Amorim de Sousa for “Enchantment Will Find Me”, 2016

Index

Index of poem titles and first lines
Poems are listed in the chronological order in which they appeared in book form during Alberto’s lifetime. Additional poems are listed as they appeared in literary contributions. Posthumous works are listed in the order in which they were written.

77 Poems

SEGUIAS TU PELA ESTRADA / YOU WERE GOING BY THE ROAD

IMAGEM / IMAGE

ORFEU / ORPHEUS

DIOTIMA/ DIOTIMA

Palácio

O TIGRE QUE CAMINHA / THE TIGER THAT WALKS

AMOR / LOVE

PARIS, À TES PIEDS

Exílio

AGONIA

A LÍNGUA PORTUGUESA / THE PORTUGUESE LANGUAGE

À CIDADE DE LISBOA / TO THE CITY OF LISBON

O MONSTRO / THE MONSTER

Cor: Azul (Oferenda I)

DECLARAÇÃO / DECLARATION

Meio-Dia

AUSTIN REVISITED / AUSTIN REVISITED

AUSTIN / AUSTIN

Mil sombras me perseguem / A thousand shadows pursue me

Não há ruínas / There are no ruins

WALT WHITMAN DÁ-ME A TUA MÃO / WALT WHITMAN GIVE ME YOUR HAND

Sonetos

SONETO 11

SONETO 108

Opus 7 (Oferenda II)

ATELIER DE ARPAD SZENES / ARPAD’S STUDIO

LULLABY / LULLABY

MELODIA / MELODY

AS PONTES VISÍVEIS E AS INVISÍVEIS / THE VISIBLE AND THE INVISIBLE BRIDGES

Ariel e a Luz (Oferenda II)

[THE KING OF LONDON]

THE WEAPONS OF WAR PERISHED / THE WEAPONS OF WAR PERISHED

A água / Water

TÚMULO DE SAFO / TOMB OF SAPPHO

SEQUÊNCIA / SEQUENCE

ÊXTASE / ECSTACY

Mecânica Celeste (Oferenda II)

SAUDADE / SAUDADE

AUBADE IN THE AFTERNOON / AUBADE IN THE AFTERNOON

O veludo é explosivo / Velvet is explosive

ON HEARING MARIANNE MOORE READING HER POETRY / ON HEARING MARIANNE MOORE READING HER POETRY

PALÁCIO DE PIERO DELLA FRANCESCA / PALACE OF PIERO DELLA FRANCESCA

UMA ÍNDIA DO PUEBLO SANTO DOMINGO / AN INDIAN WOMAN OF PUEBLO SANTO DOMINGO

CERIMÓNIA / CEREMONY

MARCHA DA PAZ / PEACE MARCH

POEMA ESCRITA NAS PAREDES DE NOVA IORQUE

Átrio

Silêncio / Silence

Horizonte

Sentado num café ao ar livre / Sitting in an open air café

A caminha mais longe / The longest walk is the walk

Não tive as irmãs de Morandi / I did not have Morandi’s sisters

Contributions

Un sol interior / Sun within

VERÃO / SUMMER

O caminho para a luz / The pathway to the light

TOURO PEDRO

Posthumous

WATERLOO / WATERLOO

IN MEMORIAM V. S.

CHIAROSCURO / CHIAROSCURO

E desce / And suddenly an angel

W. S. / W. S. 

E recomeçam os pássaros a cantar / And once again the birds begin to sing

A hora passa / The hour goes

A casa ficou por construir / The house was never built

Continuas presente / Your presence still remains

A agulha de marear / The compass needle

E será tudo / And everything will be

A escuridão é total / Darkness is total

VERMEER

E há o jornal / And there is the paper

CONTINUE NA PRÓXIMA GUERRA / TO BE CONTINUED IN THE NEXT WAR

Ao vento disseste / To the wind you have confided